sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Fronteiras

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Um dos conselhos mais frequentemente repetidos para quem se está a aclimatar, ou a querer reforçar, uma relação poly, ou aberta, é a de definição de fronteiras, de limites.

Pequenas ou grandes coisas que cada pessoa envolvida deve ou não deve fazer. Normalmente, o uso deste tipo de acordos serve para reforçar o sentido de estabilidade e de tranquilidade, de permanência, contra "haja o que houver".

Mas há um risco sério a considerar. Em primeiro lugar, a pessoa que propõe o limite e a(s) pessoa(s) que o comentam não se encontram em situações necessariamente ideais, ou necessariamente semelhantes. Poderá haver, de qualquer uma das partes, a necessidade sentida de agradar, de "cooperar", de demarcar fronteiras demasiado claras, etc etc etc... E isto pode levar a que se peça "demais" ou se aceite "demais". Aqui o demais significa apenas "de forma pouco realista", na verdade. Em segundo lugar, é preciso ter em conta o que se pede a quem. Que tipo de pedidos são feitos. Será que é razoável? Será que é justo? Será que, se o pedido fosse invertido, a pessoa que o faz responderia da forma que está a requerer?

Além disso, ainda se corre o risco de concordar com algo que descobrimos — às vezes, tão tarde demais! — que não conseguimos cumprir ou, também, que pedimos algo de que não sentimos realmente falta.

Estes pedidos servem, no entanto, mais para descobrir coisas sobre nós mesmos do que sobre qualquer outra coisa. Para cada pedido que fazemos, ou ao qual acedemos, devemos perguntar-nos: "porquê?". "Porque é que eu estou a pedir isto, e não aquilo?" "Que consequências para os outros poderão vir deste pedido?"

Assim, ao invés de transformarmos a nossa vivência poly numa lista de regras e receitas para todas as situações (então e as imprevisíveis?!), podemos antes aceitar que, como em tudo, as relações têm espontaneidade, imprevisibilidade, até mesmo... erros. E, no fim, se os sentimentos — sejam eles quais forem — se mantiverem como o estandarte pelo qual a relação pode crescer e fazer crescer as pessoas dentro dela, tanto melhor.

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