terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ardores latinos

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Para eu mudar de estado de espírito, não preciso de um evento desencadeador após um acumular de tensões, ou de me cercar de atenções. Quero eu dizer: os preliminares podem nem sequer existir, que um simples agravo ou um único abraço podem activar instantaneamente o interruptor que me deixa de mau humor quando antes estava bem, ou feliz se estava mal.

Se me sinto ferido por alguém de quem gosto, e isso pode suceder com uma simples frase, posso de repente pôr tudo em causa, feito personagem de telenovela mexicana.

Parece que isto, assim mo dizem, será uma característica «feminina», normalmente relacionada com as variações hormonais do ciclo menstrual. Tenho sérias dúvidas. Por maior que seja a influência do período e de outras eventuais diferenças entre os géneros, acredito que as pessoas são todas diferentes, e esta minha idiossincrasia é tão de gaja como de menino mimado

Nem sequer vou continuar a falar das minhas peculiaridades, que teria aqui toda uma enciclopédia para escrever. De resto, tenho conhecido as atitudes e comportamentos mais estranhos não só em mim mas também nas pessoas que melhor conheço.

Um dos mais inquietantes traços de personalidade, que soube há pouco não fazer parte apenas do mundo das pessoas que vêem demasiados telefilmes nas tardes de domingo, é a de precisar de odiar alguém para depois voltar a gostar dessa pessoa.

Já não preocupante, mas certamente singular, é a necessidade que algumas pessoas têm de esconder dos outros que estão mal com alguém (ou que estão bem, também acontece).

Estas e outras singularidades conheço eu em pessoas que admiro (ou em mim próprio, que também tenho em boa conta), e serão possivelmente vestígios deixados pela maldita era do amor romântico. O que já acho definitivamente um exagero ultra-romântico, nada saudável por sinal, é a ideia de que «sem ti não sou ninguém».

O que vale é que, como disse no início, preciso de muito pouco para ficar feliz. Diário de hoje: acordar cedo e com ideias (bem disposto), ficar horas sozinho ao computador durante horas no silêncio absoluto da casa (a ficar mal dispostinho), almoçarada com toda a família (bem disposto de novo), a luz a ir-se abaixo e com ela o computador (mal disposto, agora sim), darem-me um abraço um pouco mais tarde (bem disposto de novo), ver uma comédia que me deu sono (boa disposição perdida), e por fim descobrir estas músicas e em particular o último vídeo (que, de tão ridiculamente melodramáticos, me põem extremamente bem disposto).

No domingo que passou, recebi uma mensagem duma pessoa que conheci há muito pouco tempo na Net, e a quem tinha dito que os suecos têm um dia dedicado a uma espécie de caracol de canela (acreditem que havia uma razão para lho dizer). E a mensagem era isto: "Thanks for telling me about Kanelbullens dag; that absolutely makes up for Valentines." Eu nem me tinha apercebido que era Dia dos Namorados, vejam lá o que eu ligo à coisa. Mas o que importa é que alguém ficou instantaneamente feliz com uma frase minha. Haja mais destas idiossincrasias!

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Aqui vai alguma informação e excertos das letras destes extraordinários «valses peruanos» cantados de forma sublime pelo maior cantor equatoriano de todos os tempos, Julio Jaramillo.

“Interrogación”, de Minerva Valdez Olizondo (de quem não sei nada)
Ya no creo en nada | Hasta dudo de ti | Siento desconfianza | Ya no creo ni en mí

“Odiame”, letra sobre o poema “Último ruego”, do peruano Federico Barreto, música do seu compatriota Rafael Otero López
Odiame por piedad, yo te lo pido… | ¡Odiame sin medida ni clemencia! | Odio, quiero más que indiferencia | Porque el rencor hiere menos que el olvido. || Si tú me odias quedaré yo convencido | De que me amaste, mujer, con insistencia, | Pero ten presente, de acuerdo a la experiencia, | Que tan solo se odia a lo querido.

“Que nadie sepa mi sufrir”, valsa peruana composta na Argentina por Ángel Cabral, com uma mal amanhada letra escrita em colaboração com o também argentino Enrique Dizeo
Amor de mis amores | Si dejaste de quererme, | No hay cuidado que la gente | De eso no se enterará. || ¿Qué gano con decir | Que una mujer cambió mi suerte? | Se burlarán de mí, | Que nadie sepa mi sufrir.

“Alma mía”, do peruano Pedro Miguel Arrese
Fuiste tu todo mi ser, | Mi amor todo te lo entregue | El amor que te profeso, es el mas puro mujer | Si los lazos que nos unen se llegaran a romper | Que se acabe ahorita mismo la existencia de mi ser.

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