quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Duas mulheres-maravilha

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Para quem acha que o poliamor é uma modernice inventada na ressaca dos anos sessenta, ou um delírio de juventude que passa quando as pessoas ficam crescidas, aqui vai um pedaço de trivia.
Em Dezembro de 1941 surgiu pela primeira vez uma personagem que ainda hoje habita a mente de muitos amantes da banda desenhada: a Wonder Woman. Foi uma das primeiras heroínas de comics, e a que mais sucesso teve num mundo de super-homens. Um ano depois, já tinha direito a uma edição só para ela.
O autor desta proeza foi William Moulton Marston, psicólogo e inventor do polígrafo, que uniu as características das suas duas mulheres para criar uma mulher-maravilha. A Elizabeth Holloway Marston, com quem tinha casado, foi buscar a coragem, emancipação e sentido de justiça. A Olive Byrne, com quem passaram a viver, foi buscar os traços físicos: cabelo negro ondulado e olhos azuis. Também as pulseiras metálicas que afastam as balas foram inspiradas pelas que Olive usava, uma em cada pulso. A Wonder Woman lutava não só contra o crime, mas também contra o preconceito, o racismo e o sexismo.
Mais do que um modelo para as mulheres daquela altura, Marston queria que a personagem fosse um meio de pôr os rapazes em contacto com a ideia de elementos femininos fortes e dominantes. Estava convencido que no futuro o mundo seria liderado pelas mulheres, que subjugariam os homens, constituindo assim a última esperança de paz mundial. Essa subjugação não seria necessariamente negativa, mas idealmente recíproca:

"This, my dear friend, is the one truly great contribution of my Wonder Woman strip to moral education of the young. The only hope for peace is to teach people who are full of pep and unbound force to enjoy being bound ... Only when the control of self by others is more pleasant than the unbound assertion of self in human relationships can we hope for a stable, peaceful human society ... Giving to others, being controlled by them, submitting to other people cannot possibly be enjoyable without a strong erotic element."

Sobre as frequentes referências a bondage e dominação nas suas histórias, vale a pena ler este artigo. Com a morte prematura de Marston, em 1947, muitos destes temas foram desaparecendo e a personagem passou a encaixar-se mais nos protótipos femininos tradicionais. Embora dois dos posteriores autores fossem gays e admiradores da heroína na sua luta pela direito à diferença.
Quanto a Elizabeth e Olive, tiveram cada uma dois filhos de William, e viveram os sete juntos num ambiente descrito por amigos como feliz e harmonioso. Depois de 1947 continuaram juntas até à morte de Olive nos anos 80. Elizabeth, uma mulher de carreira que sempre trabalhou para manter a família, viveu até aos 100 anos e morreu em 1993. Um ano depois de ter sido escrita pela primeira vez a palavra poliamor.

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A partir do post "Wonder Woman's poly origin receiving more attention", do blog Polyamory in the News. Imagem de Nicola Scott.
Nota: A palavra poliamor (polyamory) aparece pela primeira vez em Maio de 1992, com a criação por Jennifer Wesp do newsgroup alt.polyamory. Outros termos relacionados tinham já sido propostos, como "poliamoroso" (por Morning Glory Zell num artigo de 1990) e "polifidelidade" (pela comuna Kerista, em 1970). (Saber mais...)

2 comentários:

Pedro Luis disse...

Fascinating!

Eu sempre tive um fetiche pela Wonder Woman (quem não teve?)

antidote disse...

Pois. mais do mesmo.
http://laundrylst.blogspot.com/2007/02/super-mulher-nao-feita-de-papelo.html