domingo, 3 de março de 2013

Aos novos rumos

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Este texto é uma história pessoal sobre activismo. Quem o faz sabe que a maioria de nós nunca leva só uma bandeira. Muitos têm vários bonés ou chapéus, outros vão alternando a bandeira que carregam com orgulho. No meu percurso ainda muito curto de activismo, tenho notado que luto sempre em várias frentes. Sou sócia da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), pela costela feminista. Faço parte do grupo PolyPortugal e este parece, ultimamente, ser o meu lado mais visível. Simpatizo com as Panteras Rosa, pela costela queer. Também por esta costela, faço parte do Bizarrias. Sou lésbica e há dois anos que desfilo na Marcha do Orgulho segurando a bandeira da bissexualidade e com um vestido bi. No entanto, este texto não é sobre nenhuma destas afiliações mais ou menos oficiais, mas sobre uma outra. 

No dia 9 de fevereiro deste ano assinei o meu nome nos documentos oficiais, no final de uma Assembleia Geral do Clube Safo. Fundada em 1996, esta é a única associação em Portugal que tem como missão principal defender os direitos das lésbicas. O facto de ser a única diz muito sobre a visibilidade lésbica, assim como disso são testemunhas os anos difíceis que quase viram a sua dissolução. O risco real de desaparecimento da única associação centrada nas mulheres lésbicas foi, felizmente, superado. O convite para integrar a lista chegou no princípio de 2013 e eu aceitei quase de imediato por conhecer a história do Clube.

Fui convidada por alguém em quem tenho uma enorme confiança intelectual e que me disse que o Safo precisava de lésbicas como eu. Não apenas num sentido de renovação, mas também num sentido de alargamento de horizontes. O Safo convidou uma lésbica poliamorosa, numa relação com um homem e queer para ter um papel activo nos grupos de trabalho e nas actividades que vão ser desenvolvidas. Isto, para mim, representou um voto de confiança, mas também um sinal de que as pessoas que estão a trabalhar pelo Clube Safo querem ver mudanças e querem levantar questões importantes para as identidades lésbicas, mas também para a comunidade LGBTQ em geral e outras identidades não-normativas. 

O Clube Safo está com os movimentos feministas, LGBT, anti-austeridade, pró-escolha, de ecossexualidade e sex-positive e contra todas as formas de discriminação de etnia, idade, género ou outras. A riqueza desta proposta é visível, mesmo ainda sem o que vou dizer em seguida. É que o Clube Safo tem, pela primeira vez na sua agenda, o tema do poliamor, das não-monogamias e da poliparentalidade como central para a comunidade LGBT. Temos em Portugal uma única associação de defesa dos direitos de mulheres lésbicas, uma associação que continua a renascer e a refazer-se, levando agora também na mão a bandeira poly, junto com tantas outras. 

E eu não podia estar mais feliz por fazer parte disto e segurar, bem alto, a bandeira do Safo.

Este texto é de teor pessoal e não representa a opinião de cada uma das pessoas que compõe o Clube Safo nem pretende subsumir as opiniões de qualquer uma das sócias. As únicas opiniões aqui veiculadas são as minhas e esta é a minha pequena estória de activismo no Clube Safo.

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